Com duas vitórias na bagagem, Rubens Barrichello voltou definitivamente aos headlines de sites de todo o mundo e, claro, aqui no Brasil. Principalmente agora que é literalmente um brasileirinho só contra o resto do mundo, já que Felipe Massa e Nelsinho Piquet tiraram férias compulsórias.
No seu sempre afiado F1 Around, Becken Lima ressaltou o texto de James Allen sobre a fase que vive Rubens Barrichello e a máxima "já é o grande vencedor de 2009", que se espalhou feito a gripe suína por todas as searas virtuais automobilísticas.
Já no erudito Cadernos do Automobilismo, do xará Daniel Médici, o excelente texto sobre a relação do piloto brasileiro com seus monopostos levantou uma questão que vale ser observada de forma mais técnica e aplicada.
Em resumo, Médici diz que a relação entre Barrichello e seus carros passa por um período de maturação, durante o qual, segundo o autor, ocorre "uma espécie de simbiose com o bólido que pilota. Não à toa é um reconhecido bom desenvolvedor e acertador, já que possui um gosto muito particular em interpretar os sinais que chegam até ele no cockpit – e que outros pilotos talvez mal se deem conta".
Daniel Médici aponta ainda que Barrichello vive a relatar "as reações do carro, um consumo atípico de pneus, um eventual problema na troca de marchas, uma resposta problemática do motor na saída de uma curva".
Bom, Médici afirma que esta hipótese é de sua autoria. Pois o Splash-and-go foi buscar algum dado concreto que fundamente o pensamento exposto no Cadernos.
Pois bem, Barrichello venceu duas corridas até agora, contra seis de Button, e pode ser que não vença mais nenhuma. É uma possibilidade. No início da temporada, Barrichello sofreu muito com os freios e reclamou repetidas vezes do fato de não conseguir trabalhar com eles em sua janela ótima de atuação.
No seu sistema de frenagem, a Brawn GP usa peças das marcas Hitco (americana) e Brembo (italiana). Em alguma das corridas passadas, uma peça do sistema foi trocada e Rubinho passou a se dar muito melhor com o carro.
O piloto continuou sofrendo com as mesmas dificuldades de Button com aquecimento de pneus, embora tendo um agravante no problema do câmbio na largada, mas a relação com os freios melhorou.
Só para se ter uma ideia, das primeiras sete corridas do ano, Button largou na frente em seis. A partir de um determinado momento, a coisa mudou. Na tentativa de buscar a razão pela qual Barrichello deu um salto de qualidade a partir do GP da Inglaterra, em Silverstone, o Splash-and-go matou a charada.
Foi exatamente na Inglaterra que a Brawn trocou as pastilhas de freio do sistema de frenagem do carro de Barrichello. Logo depois, nas seis corridas subsequentes, Rubens largou na frente de Button em cinco. Esse detalhe não é mera coincidência. É a simbiose de que fala Médici.
Rubens Barrichello explicou na coletiva de imprensa após a corrida de Monza que lutou "com os freios no início [do campeonato], mas desde que o mudamos em Silverstone, estou muito mais feliz com eles. (..) Preciso admitir que minha performance melhorou devido aos freios".
O que isso quer dizer? Que o equilíbrio entre Rubinho e Button é absurdo no que diz respeito à performance pura e simples. Eles são muito sensíveis ao acerto do carro e qualquer detalhe leva a vantagem para a garagem ao lado.
Rubens só não conseguiu acompanhar Button porque realmente o carro não estava tendo um diálogo franco com ele, sempre lembrando a hipótese de Daniel Médici.
O Splash-and-go fez uma análise detalhada da briga entre os dois aqui, aqui e aqui e a conclusão da relação mais que íntima entre os dois pilotos e seus carros apenas ratifica esta análise.
E isso, no fim das contas, é que vai decidir o título a favor de Jenson. Infelizmente o timing com que as coisas ocorreram pra Rubinho foi errado.
As chances de levar o título existem, mas realisticamente falando, a probabilidade é muito baixa justamente por Button ser tão semelhante a Rubens na performance final. Tudo vai depender do setup e do carro.
Segundo o Tazio, que cita o Times, de Londres, já há um clima de disputa mais acirrada na garagem da Brawn, com Barrichello evitando passar informações a Button. Difícil saber se é verdade, mas é fato que, nesse quesito, Barrichello é melhor.
Mas não há demérito nenhum em ser equiparado a seu companheiro de equipe. Ao contrário, apenas valoriza mais ainda quando se vence uma disputa na pista, na raça. O que deve ser admirado é a bela briga que ambos estão tendo desde o início do ano, mesmo com os infortúnios do brasileiro, que foram muitos.
Caso não houvesse problemas de largada, é muito provável que Barrichello estivesse oito ou menos pontos atrás do inglês, e isso é algo a se considerar neste momento, apenas para efeito de comparação.
As vitórias de Rubinho foram muito mais acachapantes que qualquer vitória de Button, Webber ou Vettel, pois estes sempre ganharam com os carros absurdamente melhores nas circunstâncias dadas.
Rubinho venceu Valência com uma disputa acirradíssima com Hamilton e Monza também sempre com Button nos seus calcanhaes. Por isso as vitórias foram muito mais interessantes, ainda que vários blogueiros digam o contrário.
E para quem diz, "se a Brawn esteve tão dominante no início, por que foi Button a vencer e não Barrichello"?
Simples. Porque Barrichello de fato não estava adaptado ao carro como Jenson estava, havia o problema dos freios, e tudo isso levou a Button ser dominante desde o início, o que corrobora a hipótese de Daniel Médici.
Para todos os efeitos, ele NÃO TEVE a concorrência direta de Barrichello, enquanto nas vitórias do brasileiro, Hamilton e Button estavam sim, nos seus calcanhares.
Um erro, um segundo, um deslize, e Rubinho teria perdido as duas corridas. Isso sim é uma vitória com propriedade contra adversários competitivos. Pilotar com tamanha pressão não é para qualquer um e Hamilton e Vettel já cometeram muitos erros nessas condições, coisa que Barrichello realmente não faz.
Este campeonato é atípico, estranho, quase non-sense, mas para quem acompanha o dia-a-dia da F1, é um dos mais incríveis campeonatos dos últimos anos, pois a diferença entre uma vitória e uma não pontuação está nos detalhes, na estratégia, no milésimo de segundo, nos graus Celsius a mais no pneu, como nunca foi.
A F1 no ápice da competitividade. Para o autor deste blog, é muito difícil não se empolgar com tudo isso.
Que a cena ao lado seja então a tônica da disputa entre dois companheiros de equipe aparentemente tão entrosados e amigos, considerados por muitos a dupla mais simpática do paddock.
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6 comentários:
Eu acredito que Rubens possa tirar o título de Button ainda. Kimi, em 2007, é um exemplo de que situações assim podem acontecer.
O que me preocupa, a partir de agora, é a aparente recuperação de Button na temporada.
Ele voltou a andar em um nível semelhante ao de Barrichello. Justamente quando Rubinho precisa ser bem superior.
Outra coisa que me inquieta é a caixa de câmbio: será que ela não voltará a dar problema nessa reta final?
Willian, é a grande pergunta que não quer calar.
Quanto à possibilidade do campeonato, é claro que existe, mas é claro tb que ambos são muito semelhantes e tudo vai se resumir à sorte nas quatro últimas provas.
Se se considerar a competência de ambos, Button será campeão simplesmente porque tem uma vantagem agora.
Daniel,
Primeiramente gostaria de parabenizá-lo pelos textos. São ótimos.
Já conheço o seu espaço a algum tempo, já é leitura obrigatória, juntamente com o Lívio, Capelli, Ico, e princialmente o Becken, onde tenho o prazer de as vezes comentar. Sou um pouco tímido, demora um pouco até eu me sentir em "casa", só depois passo a me manifestar. E confesso, os teus textos me deixam a vontade. Dá vontade de dar um pitaco.
POr falar em pitado, darei o meu agora em relação à disputa Jenson x Rubens:
Considero o Rubens um bom piloto. Um exímio acertador de carros, mas não é aquele piloto que nos enche os olhos.
Jenson da mesma forma, talvez perca para o Rubens em sua relação com o carro.
Mas os dois têm um avião nas mãos.
Qualquer dos dois sendo campeão, até será justo. Mas será o título do carro.
São ambos pilotos Pragmáticos.
Mas sua análise tem para mim muito sentido. Para mim a vantagem do Rubens para o Jenson em Monza, foi a escolha dos Pneus. Rubens optou por duros no primeiro Stint, enquanto Jenson otpou por macios. Enfim meros detalhes.
Ffigueiredo
Fernando, obrigado pelas palavras de apoio.
Quanto à Monza, com certeza a estratégia dos pneus foi importante, mas não creio ter sido determinante.
O que foi determinante de fato foi a classificação e o 5º lugar de Rubens sobre o 6º de Button.
Caso fosse o contrário, Rubens dificilmente venceria, pois no fim da corrida, Button estava consistentemente mais rápido que Barrichello nos pneus duros, pois, embora os pilotos não tivessem dito, os pneus macios realmente estavam se desgastando mais que os duros.
Mas, como vc falou, meros detalhes. É a junção de tudo que fecha a fatura!
Olá Daniel,
É um grande prazer ser comentado no Splash 'n Go. Você foi muito preciso ao dizer que formulei uma hipótese - ela é, de fato, pois é a falta de uma tese, não colhi evidências antes de enunciá-la. O James Allen comenta a sensibilidade do Rubinho em relação aos freios, né? Não sabia que havia ocorrido uma troca neles justamente em Silverstone. Isso explica muito da dinâmica da temporada.
Quanto à minha hipótese, acho bom dizer que meu intuito era mais explicar as palavras do Rubinho do que seu desempenho. Fico feliz em saber que ela pôde ajudar em alguma conclusão neste sentido. ;)
Daniel, mas achei interessante justamente vc formular uma hipótese em relação ao Rubens que tem fundamento na prática, pois realmente cada entrevistar que o Barrichello dá falando sobre alguma característica do carro não é papo furado, mas sim algo profundamente técnico e específico, quer os leigos queiram, quer não.
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