quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Piquet Jr.: a única opção

O Splash-and-go quer fugir do assunto, mas o assunto não foge dele. O caso Renault está envolto em nuvens e só se saberá do arranjo feito entre a montadora e a FIA na segunda-feira.

Entretanto, é necessário que este blog deixe registrada sua opinião sobre o assunto, mesmo que ele esteja mais do que saturado e tudo seja especulação.

O sentimento deste escriba é que Piquet Jr. não tinha escolha. Por uma série de fatores, Nelsinho foi induzido a fazer algo que, acredite, leitor, ele com certeza não queria e nunca quis.

Senão, vejamos suas opções:

1 - Denunciar Briatore e Symonds tão logo a proposta foi feita antes de a corrida acontecer

Caso Nelsinho tivesse feito isso, como ele provaria sua acusação? É claro que ele não gravou a conversa, e nem tinha necessidade disso, pois provavelmente não sabia do que ia ocorrer no briefing.

Além disso, sem telemetria para mostrar suas ações, sem estratégias malucas (Alonso com certeza voltaria à estratégia comum de largar com combustível até o capacete), ele mostraria o que?

Se Piquet Jr. desse com a língua nos dentes, seria considerado louco, conspirador, mentiroso e apenas um moleque mimado filho de um tricampeão tentando se fazer notar.

Seria demitido, se não na mesma hora, com certeza antes da corrida seguinte. Briatore e Symonds sairiam como vítimas e Nelsinho Piquet encerraria sua carreira na F1 de forma ridícula, sem nenhum crédito e com resultados pífios.

2 - Desobedecer à ordem da batida e correr a corrida normalmente

Neste cenário, Nelsinho provavelmente terminaria a temporada, mas não seria mantido na equipe por “deslealdade”. Briatore simplesmente não renovaria seu contrato e o piloto, que teve um ano produtivo nos pontos para um rookie (19), mas medíocre em relação a Alonso, se veria fora da F1 sem equipe.

Todos sabem o que ocorreu em 2009 e o quão estável foi a transição do ano, com apenas Buemi entrando na F1 na Toro Rosso e David Coulthard saindo da Red Bull. Vagas zero e, portanto, Nelsinho fora.

3 - Obedecer e bater para a vitória de Alonso

Foi o que ocorreu, mas essa opção permitiria com que Piquet Jr. tivesse uma moeda de troca. Ele sabia que, caso batesse, teria um indício técnico na telemetria, além de sua palavra que, sozinha, embora desencadeie uma investigação, não gera provas.

Nessa opção, Nelsinho sabia que poderia negociar sua permanência na categoria, pois fez o que a equipe (Briatore, Symonds) quis, foi leal e ainda teria uma grande arma contra possíveis traições.

O que se conclui com isso?

Os Piquet: segredos em família

Primeiro que a F1 não é feita de santos e anjos. O papel de Nelsão nessa história ainda está muito mal explicado e é muito provável que ele possa ter manipulado a situação de forma a ganhar muitas coisas. Difícil achar que o tricampeão ia ficar quieto nessa.

Segundo que Nelsinho não tinha opção mesmo. Era isso ou isso para se manter lá. Lembrando sempre que Briatore era seu manager, e isso significa que Piquet Jr. confiava nele. Mas talvez Piquet Sr. Já não confiasse tanto...

Por fim, a batalha de gigantes entre Briatore e Piquet tem um grande vencedor –Max Mosley. A F1 nunca será livre de escândalos, e nada melhor para Mosley do que sair por cima da presidência da FIA, derrubando, na sequência, a Honda, a BMW, Ron Dennis, Flavio Briatore e, por pouco, a Renault.

Está claro que vemos apenas a ponta do iceberg, e vai ficar nisso mesmo, mas a sensação de que o poder dos Piquet aumentou muito em detrimento de sua imagem pública junto à FIA é latente.

Briatore e Symonds, mais Briatore, estão liquidados da F1 e não voltarão aos paddocks.

Piquet Jr. vai ter muito trabalho nos próximos meses se quiser voltar à F1. Deve ser por isso que seu perfil no Twitter anda tão abandonado.

Existe a chance de ele voltar sim, mas a essa altura do campeonato, talvez Nelsão nem esteja mais pensando nisso. Ele fez o que tinha que fazer e, com isso, deve ter aberto inúmeras outras portas comerciais e esportivas para o sobrenome de sua família e suas empresas.

Está se vendo a versão Monopoly da F1 bem diante dos olhos e de inocente esse jogo não tem nada.

12 comentários:

Rafael disse...

Uma das opiniões mais sensatas sobre o Nelsinhogate.
Parabéns pelo blog.

Ron Groo disse...

Concordo com tudo, adorei o texto.

Rodrigo Neto disse...

Bem, o texto expressa o que eu penso. Parabéns.

DGF disse...

Muitas pessoas não concordam com isso pq elas insistem no fato de que Nelsinho bateu para garantir o contrato com a Renault.

Ou seja, mesmo que ele não tenha opção, como eu destaquei, essa opção restante é demonstração de antiesportividade e mau caráter.

De todo modo, o fato de eu dizer que ele não teve opção não o exime da responsabilidade.

O que quero mostrar é que, dentro do contexto, a maioria esmagadora das pessoas FARIA A MESMA COISA.

É muito fácil julgar de fora. Fácil até demais. E isso me incomoda.

Ridson de Araújo disse...

O texto realmente exprime minha opinião em uma conversa com um amigo no domingo mesmo, antes de ser anunciado que Briatore iria ser "demitido".

O que realmente me deixa cabreiro, e farei um post sobre isso no Histórias e Velocidade, é sobre o que acontecerá para a GP2 e a World Series.. ainda mais para a primeira, que está nas mãos de Briatore. Ou o cara vende sua parte...ou poderemos perder uma categoria tão interessante atualmente quanto a F1.

Anderson Dorneles disse...

Brasileiro é foda mesmo, em todos os blogs q vi, ninguem nunca se quer considerou a seguinte situação:

Briatore no briefing: "Pessoal, quero uma ideia de como vencer essa corrida";
Nelsinho: "Chefe, tenho uma ideia...".

Eta patriotismo mais cínico esse.

Abraço

DGF disse...

Anderson, como disse, não há santos na F1. É perfeitamente possível que isso tenha acontecido, mas eu acredito mais numa coisa impensada, numa coisa improvisada, totalmente ocorrida num momento de brainstorm rápido, pois Nelsinho disse que o encontro durou não mais que 10 minutos.

Não acho que ele premeditou isso antes do encontro com Briatore e Symonds, pois essa não é uma ideia que se teria assim de uma hora pra outra (no caso de um jovem piloto) sem que ele medisse as consequencias.

Mas dita pelos chefes, talvez ele tenha sentido um pouco mais de firmeza.

De todo modo, é tudo especulação e eu admito que o que vc levanta pode ter acontecido sim.

Mas eu não acredito, e não tem nada a ver com patriotismo. Tem a ver com a plausibilidade da situação, e acho muito mais provável putas velhas da F1 como Symonds e Briatore terem uma ideia esdrúxula dessas do que um jovem piloto mimado e psicologicamente abalado, como ele realmente devia estar na época.

Obrigado pelo insight!

Rob disse...

To quase mudando minha opiniao depois desse texto.
Parabéns pelo blog.

DGF disse...

Rob, conte sua opinião para nós!

Carlos T. disse...

Em termos de opções, ele tinha sim mais que uma opção apenas e isso inclusive está no texto:

2 - Desobedecer à ordem da batida e correr a corrida normalmente.

Não é fácil ser honesto num meio atolado de corrupção. Os bons políticos que o digam. Mas são essas escolhas que definem de que lado estamos no jogo da vida.

DGF disse...

Carlos, é exatamente o que penso. Se ele fosse honesto, perderia muito mais do que sendo desonesto, por idiótico que isso possa soar.

Urso disse...
Este comentário foi removido pelo autor.