Como de costume, não vamos nos ater às especulações. No fim das contas, é impossível saber se Ross Brawn errou (e caso tenha errado, se deliberadamente ou não) a chamada “optimum strategy” no GP da Espanha, ou seja, a estratégia ótima, aquela que daria a maior vantagem possível aos carros.
Mas mesmo assim, continua não fazendo sentido fazer seus dois pilotos iniciarem a corrida com uma estratégia de três paradas quando todos os outros competidores entre os 12 primeiros estavam em uma estratégia de duas.
Dito isso, fica uma pergunta: caso Button se mantivesse em primeiro após a largada, será que a estratégia de Barrichello seria mudada para o “plano B”? E assim, será que Rubens venceria? Um excelente cenário do tipo “o que aconteceria se...” para você fazer suas especulações.
Mas como a corrida já aconteceu e Button ganhou com 13 segundos de vantagem, vamos observar o que ocorreu com os dois pilotos. No gráfico a seguir, que você já viu igual neste post, é possível ver as médias de tempos dos pilotos a cada volta. Exemplo: na volta 31, a média dos tempos de Barrichello até aquele momento era a melhor da corrida, seguida das médias de Button, Vettel e Webber. Depois Massa e Alonso, que ocupava a sexta melhor média de tempos até aquela volta.
Para uma melhor visualização deste gráfico, tenha em mente os seguintes padrões:
- Uma linha horizontal alta: piloto rápido e consistente
- Uma linha horizontal baixa: piloto lento consistentemente durante a corrida
- Uma linha ascendente: um piloto mais consistente do que rápido
- Uma linha descendente: um piloto rápido, mas inconsistente
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Com essas informações, é possível ver claramente o desenrolar da corrida neste gráfico. Repare que a linha de médias de tempos de Felipe Massa cai constantemente durante a corrida, de terceira melhor média para sétima, até terminar em sexto. Massa estava realmente segurando Sebastian Vettel, que elogiou a defesa de posição do brasileiro ao fim da prova. A partir da 17ª volta, Vettel já era mais rápido que Massa, mas nunca conseguiu ultrapassá-lo.
Outro piloto com uma queda brusca de rendimento durante a corrida é Giancarlo Fisichella. Sua Force India, que ocupou a sexta melhor média de tempos nas primeiras voltas, terminou em 14º com uma descendente clara de baixa performance.
Repare que, ao contrário de Massa e Fisichella, Mark Webber escala devagar e sempre o gráfico, chegando a ter a segunda melhor média depois que Barrichello parou pela terceira vez e colocou os compostos duros.
Webber só não ganhou a posição de Barrichello porque o piloto brasileiro, embora não tenha sido rápido o suficiente, foi bastante constante, mesmo em seu stint mais lento com os pneus duros. Todavia, os únicos pilotos que ascenderam durante a corrida sem terem uma recaída foram Jenson Button e Fernando Alonso. É aqui então que vamos tentar fazer uma análise mais atenta da corrida do inglês. É importante notar que este gráfico representa apenas as médias dos tempos a cada volta, ou seja, não considera performance do carro e estratégia durante a corrida, estado dos pneus, tráfego e outros problemas. Por essa razão, ele pode apenas aferir a constância, mas não efetivamente a performance de cada piloto diante dos outros competidores.
Rubens Barrichello se mantém com a melhor média da corrida até a volta 55, mas isso não condiz com a realidade da prova porque o piloto correu praticamente o tempo todo mais leve que os outros. Isso significa que a média dele tinha que ser melhor que as dos outros de qualquer maneira.
Entretanto, no momento em que teve que entregar a performance que efetivamente lhe daria a vitória, Barrichello simplesmente não conseguiu se manter rápido o suficiente para bater Jenson Button. É importante ressaltar que Rubinho esteve rápido durante toda a prova. Só não rápido o suficiente.
Na tabela abaixo, você verá uma comparação entre os dois pilotos da Brawn durante toda a corrida a partir da quinta volta, quando o safety car saiu da pista. As voltas sublinhadas em vermelho marcam os dois pit-stops de Jenson Button e as sublinhadas em azul marcam os três pit-stops de Barrichello.
Nas 27 primeiras voltas após a saída do safety car, Barrichello ganhou tempo de Button em 19 delas. Seu stint após o primeiro pit-stop é especialmente brilhante, pois ele abriu uma vantagem média de nove décimos por volta do inglês, isso em todas as voltas! A vitória nesse momento parecia assegurada, mesmo com a estratégia de duas paradas do carro número 22 da Brawn GP.
Entretanto, tudo se inverteu após o segundo pit-stop de Barrichello. Repare que das voltas 20 a 30, Rubens abriu vantagem em todas. Após o seu segundo pit-stop, Button foi quem diminuiu a vantagem durante 10 voltas seguidas, mesmo com os pneus já gastos durante nove voltas desde seu primeiro pit-stop e com excesso de peso de 38,5 kg de combustível, colocado em sua parada de oito segundos. É claro que Jenson tirou muito menos tempo do que Rubens no seu segundo stint, mas repare o quão constante e incrivelmente preciso foi o piloto inglês após a segunda parada do carro 23 de Rubinho.
Nas 17 voltas após a parada de Barrichello, excluindo as duas últimas voltas (47 e 48), que são justamente a volta de entrada nos boxes e a volta em que o inglês efetivamente fica parado para o pit-stop, Button girou nove voltas abaixo de 1:23.500, enquanto Rubens só girou duas. Todo o resto de suas voltas foram em 1:23 alto e duas acima de 1:24.
Justamente neste momento, em que Rubens precisava “sentar a bota”, como diz o narrador global, Button resolveu se apressar para o chá das cinco e destruiu qualquer chance de as três paradas de Barrichello darem certo.
Para fechar, os dois pilotos fizeram suas últimas paradas apenas com duas voltas de diferença, o que selou a vitória do inglês, já que, de pneus duros e com praticamente o mesmo combustível que seu companheiro, abriu uma absurda vantagem média de cerca de seis décimos por volta.
É possível que o carro de Rubens Barrichello tenha sido sorteado com algum problema durante a corrida, porque a queda de rendimento do chassi BGP002 é simplesmene anormal, principalmente ao se levar em conta os dois primeiros stints de Barrichello, que foram absurdamente velozes e lhe renderam, inclusive, a melhor volta da prova.
Entretanto, não é só isso que rendeu a Button a vitória. O inglês aproveitou a chance de reverter uma péssima largada em algo positivo e, geralmente, o que faz a diferença entre o campeão e os outros é justamente isso: aproveitar o erro do oponente, o baixo rendimento, um golpe de azar, um percalço qualquer. Ser oportunista.
Michael Schumacher deve estar orgulhoso de Jenson Button.
3 comentários:
Ótima Analise...crua e perfeita...
Rubens perdeu a corrida porque foi lento...infelizmente ele perdeu a corrida..Jenson teria ganho com 3 paradas (contra duas de RB) da mesma forma, porque simplesmente foi rapido quando precisou (mais rapido que o companheiro) e faria melhor uso do carro leve e dos pneus macios
Pois é Dan, é o tipo de análise que simplesmente TODOS os que dizem que "a Brawn sacaneou Barrichello" deveriam ver - inclusive o próprio Barrichello, por sinal.
É questionável, de fato, se a estratégia de três paradas era a melhor para a vitória, mas um fato incontestável que se observa desde os tempos de Barrichello na Jordan e na Stewart é que o último terço de suas corridas apresenta uma queda vertiginosa de desempenho, em comparação ao início da prova.
Suas tabelas comprovam isso.
E isso acaba com o "chororô" dos chatos que acham que o mundo conspira contra Barrichello há 17 anos.
Bom pessoal, é fato que Rubens foi mais lento, mas é fato também que o carro perdeu performance no terceiro stint.
A razão pela qual isso aconteceu provavelmente advém dos jogo de pneus que, segundo Ross, já tinha sido utilizado nos treinos de sábado no Q2.
Isso não exime Rubens de ter tido algum tipo de responsabilidade de seu carro ter sido mais lento. Neste momento, Jenson deu o pulo do gato, e a equipe foi a responsável por mantê-lo no páreo e, com certeza, deu-lhe a vitória, pois caso tivessem os dois permanecido em três paradas, muitp provavelmente Rubens haveria ganhado.
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