A dupla da McLaren prometia uma disputa acirrada. Ayrton Senna se deu mal na classificação por causa de uma inesperada queda de pressão nos pneus traseiros e largou em 11º. Alain Prost por outro lado conseguiu melhor posição no grid, quarto, embora ambos tenham tido dificuldade com a baixa temperatura da pista no fim-de-semana.
Debaixo de garoa fina, como era de se esperar, Senna fez uma excelente largada pulando a oitavo logo nos primeiros metros. Prost não conseguiu aderência e perdeu uma posição. Logo depois, com Senna voando baixo, Prost foi ultrapassado pelo brasileiro com muita facilidade. Percebendo o desgaste dos pneus de chuva e a melhora das condições da pista, resolveu voltar aos slicks e se antecipou ao resto do grid.
Na sétima volta, ainda com a pista muito molhada, o Professor chegou a passear na brita, mas em questão de instantes começou a virar dois segundos mais rápido que os carros que ainda se mantinham nos pneus de chuva. Quando todos pararam para fazer seus pitstops, Prost pulou para segundo, tentando manter a distância para o primeiro colocado.
Enquanto isso, Senna, que havia ultrapassado muita gente, perdeu posições para colocar também os slicks. Quando voltou à pista, deu um show. Um festival à parte. O exímio piloto brasileiro ultrapassava por dentro, por fora, deixava para frear no último momento. Fez fila com os adversários. Fez valer seu talento.
Prost se mantinha em segundo na tentativa de salvar os pneus e manter a vantagem. Ele sabia que não podia alcançar o primeiro colocado dada a diferença de performance entre seus carros, mas sabia também que, sendo prudente, garantiria o segundo lugar e o pódio sobre o companheiro, por muitos considerado muito melhor do que ele.
A fome de vitória de Senna o fazia atacar as zebras de forma agressiva, tirando o máximo do carro. O piloto era incrivelmente mais rápido que todos os outros na pista. Entretanto, sua inexperiência o fez cometer um erro e deixar a estratégia nas mãos da equipe, enquanto Prost fez o contrário e decidiu permanecer calçado com os mesmos compostos do início.
A McLaren chamou Senna para uma segunda troca e o piloto perdeu mais de 20 segundos e muitas posições, mas ao voltar à pista, tornou a fazer fila com os adversários. Ayrton virava até 2,5 segundos mais rápido que as Ferrari que estavam à sua frente.
O brasileiro alcançou os adversários rapidamente e parecia determinado a ultrapassá-los, mas, por afobação, tentou ultrapassar uma das Ferrari sem considerar o perigo que poderia vir por trás. Foi abalroado pelo piloto que vinha da retaguarda, que errou o ponto da freada, e acabou sendo jogado para fora da pista. Perdeu uma posição e ali ficou.
Prost, mantendo tempos de volta meticulosamente estáveis tinha pneus para pelo menos mais 50 voltas. Mantendo a calma e a concentração, ganhou a vitória de presente quando o carro que liderava teve problemas de freio. Lugar certo, hora certa. O francês venceu e o brasileiro ficou em sexto. O brasileiro deu show, mas o francês deu aula de pilotagem inteligente e subiu no lugar mais alto do pódio, além de amealhar o maior número de pontos possível.
O piloto da corrida? Senna. A pilotagem da corrida? Prost.
A dupla da McLaren reeditou na Austrália uma bonita disputa entre arrojo e conservadorismo, impetuosidade e inteligência, arrogância e experiência. Esses foram Jenson Button e Lewis Hamilton. Simplesmente demais.
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5 comentários:
ótimo post!
Eu não lembrava dessa disputa já que era pequeno na época do Senna, minhas lembranças dele na F1 são mais de 91 em diante. Isso foi em 88 ou 89?
Realmente o estilo dos atuais pilotos da Mclaren lembra muito os de Senna e Prost. Quando vejo Hamilton ultrapassando de forma extremamente agressiva lembro muito do Senna. Acho que é por isso que ele é o piloto que mais me enche os olhos na F1 hoje.
Clap, clap, clap...
Esta maravilha de post merece palmas.
Exemplar seu post...
Muito bem escrito e as comparações dentro da realidade nua e crua, sem apelação de torcedor.
Imparcial em todo ele.
Muito bom, são de pessoas assim como você que valorizam os blogs por aí, ao contrário do que vem acontecendo... quando a visão do torcedor distorce a razão e a verdade dos fatos.
Parabéns!
Saudações,
Daniel,
Muito bom, Parabéns!
Rapaz, a história é a mesma.
Tirando que os dois do passado eram um tantão melhores, o enredo é o mesmo.
Belissima sacada.
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