Em um esporte hoje considerado tão avançado, com a quantidade de informações acumuladas nos últimos 60 anos seria fácil, na teoria, apontar o exato motivo que vem atrapalhando a F1 a promover o que, para muitos, é o seu âmago: a ultrapassagem.
Entretanto, os anos se vão rápidos e engenheiros, pilotos, dirigentes e figuras importantes do automobilismo parecem bater cabeça constantemente quanto a este verdadeiro enigma esportivo.
Vários são os debates e as soluções propostas e vários também são os interesses envolvidos em tomar ou não alguma decisão que influa diretamente nessa espécie de “cereja do bolo” do esporte a motor.
Talvez por isso a clareza dos argumentos não seja devidamente alcançada e apreciada por quem assiste de fora. Afinal, as ultrapassagens dependem de vácuo? De aderência aerodinâmica? Ou seria mecânica? Seriam os circuitos que não ajudam?
É claro que um amálgama de tudo isso resulta nas modorrentas corridas que já se assiste há alguns anos. Mas de todas as possíveis causas, a que parece ser mais tangível de fato é que a F1 hoje é um esporte mais “fácil” do que há 20 anos.
Michael Schumacher disse ao fim do GP do Bahrein que ultrapassar era impossível e o que se podia fazer era manter o ritmo e esperar o erro do adversário. Não é exatamente a receita para uma boa corrida.
Dito isso, James Allen publicou um extenso post em seu blog dando a palavra a Frank Dernie, um dos aerodinamicistas mais ativos da F1 nos últimos 30 anos. Se tem algo que Dernie sabe, é sobre as variáveis da F1.
Segundo Dernie, “quando havia ultrapassagens no passado, elas se deviam principalmente à baixa aderência dos pneus contribuindo para um traçado do carro na pista mais aberto e grandes distâncias de frenagem combinados com carros muito mais difíceis de guiar devido à baixa aderência e aos câmbios manuais. Por isso, havia mais erros”.
Isso parece realmente lógico. E vai na contramão do que a F1 se tornou hoje. Um esporte de alta performance, alta confiabilidade, um carro que permite aos pilotos serem muito mais iguais entre si do ponto de vista da habilidade e um universo muito menor de variáveis a influenciarem no resultado de uma corrida e, claro, nas ultrapassagens.
Acontece que muitos pilotos, ex-pilotos, dirigentes e engenheiros são contra essa ideia por uma infinidade de razões.
Ainda de acordo com Dernie, “muitas pessoas influentes na mídia não querem essas mudanças que certamente funcionaram no passado. Os pilotos odeiam pneus duros, embora eles sejam 50% da solução, e os engenheiros amam câmbios semiautomáticos, os outros 50%...”
Esta semana, Lucas di Grassi respondeu a uma pergunta direta sobre isso no Twitter. Ele disse não concordar que a solução esteja na volta dos câmbios manuais e pneus menos eficientes e mais instáveis.
A verdade é que pilotar um F1 continua difícil, mas a dificuldade não é tão grande a ponto de destacar um grande piloto de um medíocre. Ou seja, mais do que nunca, o carro é que faz o campeão.
A imagem de Senna vencendo em Interlagos com um carro com algumas marchas a menos e o esgotamento físico do campeão é coisa do passado. Isso não existe mais e é provavelmente o motivo mais forte para que a F1 seja tão parada.
E você? Acredita que a volta às origens na F1 destacaria os pilotos mais habilidosos e geraria mais ultrapassagens?
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5 comentários:
Acredito que pneus mais duros e câmbios manuais realmente aumentariam o número de ultrapassagens na Fórmula 1. Mais que isso, as provas teriam muito mais variáveis, já que os pilotos voltariam a ser co-responsáveis pelo desgaste e quebra dos motores, além da questão do desgaste dos pneus.
Infelizmente, na história não existe regressão, não há possibilidade de simples retorno ao passado. E os anunciantes e marcas na Fórmula 1 não têm interesse de mexer nesse ponto, já que menos confiabilidade das máquinas rende menos lucro...
Eu manteria o cambio semi-automático mas apoio a causa dos pneus mais duros. Acho que o que deveria ser revisto também é a eficiência dos freios. É algo que sempre passa em branco em toda mudança de regras.
Atualmente, considero que esteja seja o elemento mecanico mais eficiente de um carro de F-1. A 300km/h os caras conseguem reduzir para 70km/h no espaço de 100m (ou menos).
A impressão que tenho é que isso diminui muito o espaço para disputas.
Uma medida seria, por exemplo, substituir os discos de carbono por discos de aço. Alem de teoricamente aumentar o espaço para frenagem, diminui-se os custos de fabricação (algo tão falado nos dias de hoje).
Obviamente que não é tão simples assim, mas acho que rever o sistema de freios seria um caminho.
Pilotos mais habilidosos, mais corajsos seriam um bom começo.
Eu acho que a maior parte da "culpa" é dos autódromos,digo, dos kartodromos de hoje.
Rá..todos nós nos debrucamos sobre isso. Faz alguns dias que eu tb fui dar minha opinião, que se dá mais ou menos pela questão dos circuitos. Entretanto, com a política dita higienista, os circuitos não são desafios, mas são caros demais para serem modificados. Então, toda a mudança se decái por colocar dificuldades para os pilotos. Rubens Barrichello, e outros pilotos acho que colocaram um ponto interessante: os pneus dianteiros tem de ser largos msm, pq senão ultrapassar um carro se torna algo tão perigoso que pode acabar com uma corrida, pelos carros saírem de frente. Se quiserem conferir o que opinei a respeito disso, vejam no
http://historiasevelocidade.blogspot.com/2010/03/odisseia-da-falta-de-ultrapassagens.html
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