Vez por outra acontecimentos como o acidente de Felipe Massa nos fazem refletir sobre os ídolos, as celebridades, os imortais, os olimpianos. O paulista e são-paulino Massa certamente nunca foi modelo de brasileiro para nenhum cidadão de nosso país.
Modelo do ponto de vista da identificação imediata. Quem no Brasil se identifica com um garoto não rico, mas provavelmente remediado, cujo hobby principal era um dos esportes mais caros que se tem notícia –o automobilismo?
Sim, é difícil se identificar. É fácil também criticar, como já criticamos tantas vezes os Rossets, Pizzonias, Bernoldis, Burtis, da Mattas, Marques, Diniz, Gugelmins, (Christians) Fittipaldis e, claro, Barrichellos que passaram pela F1 com pouco ou nenhum brilho, para não dizer vergonhosamente.
Mas Felipe Massa, se não trazia consigo o arquétipo brasileiro, acabou encarnando-o na sua escalada ao estrelato. Ou, quem sabe, modificando-o. Melhor ainda, criando um totalmente novo.
Ayrton Senna nasceu gênio, cresceu gênio e morreu gênio. Um piloto completo, incrível, abismal. Nunca deixou dúvida sobre seu inimitável talento. Nunca deu deixa para nenhum torcedor tupiniquim lhe criticar. Já no primeiro teste na F1, com uma Williams, foi um segundo mais rápido que o então campeão Keke Rosberg com poucas voltas...
Felipe Massa não. Nunca foi unanimidade, nunca foi o melhor onde passou. Foi sim um piloto como tantos outros a cair no moedor de gente que é a F1. Seria ele expurgado do sistema como seus antecessores?
É claro que Massa não caiu na Ferrari por obra do destino. Ele foi para lá por apresentar um trabalho minimamente consistente, um potencial e, principalmente, por sua lealdade à Scuderia, algo bastante valorizado por Luca di Montezemolo.
Curiosamente, o piloto brasileiro teve como companheiro de equipe o mesmo Michael Schumacher que humilhou Rubens Barrichello tantas e tantas vezes. A diferença é que Felipe calou-se. E aprendeu, e experimentou e viveu.
E quando Schumacher resolveu sair, recebeu a grande estrela da nova F1 como companheiro de equipe: Kimi Raikkonen. E para piorar as coisas, ainda viu o companheiro vencer o campeonato em cima de dois grandes pilotos da rival McLaren.
Mas ao contrário do que se imaginava, Felipe não se abateu. Continuou trabalhando. Sempre em segundo plano, sempre afastando de si os holofotes que Rubens Barrichello cansou de buscar.
Sua paciência rendeu frutos ao disputar até a última curva o mundial de 2008, seguramente um dos mais incríveis da F1 moderna. Massa se mostrou um rival valoroso para Hamilton e ensinou a Raikkonen que pisar no acelerador todo mundo pisa. Ter talento é questão de sorte. Mas evoluir... ah, evoluir não é pra qualquer um.
Mas Felipe Massa evoluiu. E se buscarmos as estatísticas, veremos que foi o piloto que mais evoluiu entre todos os seus contemporâneos. É o piloto que mais amadureceu, é o piloto que mais colheu após uma longa semeadura em tempos bicudos de Sauber e piloto de testes da Ferrari.
E foi essa a contribuição de Massa como arquétipo de uma nação. Ele mudou o “talento vem de berço” para “resultado vem do trabalho”. Algo muito comum ao brasileiro, desde os tempos de Gerson “Canhotinha de ouro” e seu jargão de “levar vantagem”.
O brasileiro precisa entender que o que se almeja só se conquista com trabalho, com disciplina, força de vontade, tranquilidade e honestidade. Mas o mais importante: basta correr atrás.
Felipe Massa nunca disse que conseguia fazer algo que não conseguisse. Nunca bradou aos quatro ventos que seria campeão. Nunca diminuiu sua equipe, seu carro (apenas quando foi merecido, claro) ou seu companheiro e muito menos seus adversários.
Não deixa de ser ironia que Massa seja o piloto brasileiro mais famoso depois da era Rubens Barrichello e, neste momento, Barrichello, que está à beira da aposentadoria, participa de um evento que pode tirar o primeiro sucessor de Senna de fato e de direito da F1.
Massa ocupa hoje o lugar que Barrichello sempre quis no coração do brasileiro, correndo inclusive pela mesmíssima equipe vermelha.
O certo seria Rubens passar o bastão a Massa, mas o destino quis o contrário. E não duvide se Barrichello disser que sua nova motivação para permanecer na F1 é “substituir” Felipe Massa. Não sei porque, mas o brasileiro acreditou muito que ele poderia preencher o vazio de Ayrton Senna. Talvez no seu auge, Rubens até conseguisse, mas fez escolhas erradas e deu muito azar.
Entretanto, no auge ou não, substituir Felipe Massa não será possível porque ele estava caminhando rapidamente para ser o primeiro campeão mundial de F1 brasileiro desde Senna e ocuparia com certeza as três primeiras posições da lista de melhores pilotos de qualquer admirador da cateogira em muito pouco tempo.
Quando Rubens pôde ocupar este lugar, ele não conseguiu, e não será agora que o fará.
Alea jacta est! Forza Felipe!
terça-feira, 28 de julho de 2009
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15 comentários:
um texto interessante...mas sei lá, não foi meio forçoso em relação ao Barrichello não?
Quase desmedida
Ridson, em que sentido? Eu apenas apontei uma coincidência bastante infeliz relacionando os dois pilotos.
Não me entenda mal. Eu gosto e torço pelos dois, mas é uma coincidência estranhíssima a meu ver.
Belo texto Daniel, realmente o Massa soube usar a cabeça e fazer apenas o q era necessário e da forma correta. Barrica não conseguiu, creio que o maior motivo, foi a pressão em substituir Senna, mas isso não tira a parcela de culpa própria dele. Mas tb não pode-se negar que Massa está brilhando em uma outra fase da F1, bem diferente dakela em que Barrica tinha q se firmar. Belo blog e vou favoritar no meu. Flw
Acho a questão do Rubinho um pouco mais complexa... Mas em todo caso, sua opinião tem um bom respaldo. Na arquibancada A, ano passado, durante o podio do GP Brasil, a gente já sabia que o Hamilton era campeão. Um cara ao meu lado gritava: "É isso aí Massa! Você tem alma de campeão! Não é igual ao Rubinho!"
Sobre a questão da Lei de Gerson, ouvi um comentário interessante do Ernesto Rodrigues num especial da Globo News sobre Senna, que repeti em alguns outros lugares, como o blog do Groo.
Ele falou que a grande herança de Senna era não ter tratado seu talento apenas (sublinho o apenas) como inato, mas também como fruto do trabalho. O piloto do jeitinho, da gambiarra e da malandragem era o Piquet. Mas foi Senna o protótipo do piloto esportista de alto nível, de preparação física intensa, disciplinado. Foi ele o piloto que disse depois da primeira vitória que se sentia muito feliz, mas que nesse esporte você não pode comemorar muito, que precisa trabalhar no dia seguinte se quiser continuar vencendo. E a história de como ele se tornou um bom piloto de chuva? Aquela que todo mundo sabe: não porque ele nasceu com essa capacidade, mas porque, depois de um resultado desastroso, colocava o kart na pista toda vez que chovia em São Paulo.
Por outro lado, é verdade que Massa nunca foi aquele "predestinado"... Se bem que não ficou muito longe disso. A capa da Autosprint de setembro de 2001 era uma foto de Massa com os dizeres: "È il nuovo Senna?".
Médici, ótima contribuição.
É claro que Senna elevou à enésima potência o conceito do atleta moderno, tanto é que hoje em dia todos os pilotos têm preparação física e psicológica dignas das Olimpíadas.
No entanto, o talento de Senna era tão grande que o fato de ele ter potencializado sua própria aptidão por meio de treinos específicos, força de vontade e disciplina ficou em segundo plano.
Como vc mesmo lembrou, Massa nunca foi predestinado. E, convenhamos, quantos pilotos não foram chamados de "il nuovo Senna"? Ora, título pra vender revista e jornal, não é mesmo? Qualquer um pode especular isso.
Alguém pensou em Sebastian "Baby Schumy" Vettel?
De todo modo, depois de anos de pilotos desacreditados e medíocres do ponto de vista do resultado alcançado, foi Felipe Massa quem se destacou. E se destacar na F1 de hoje é MUITO mais difícil que na F1 de Senna. Hoje tudo é mais nivelado e o talento não é mais tão premiado como em outrora.
É por isso que considero Felipe um piloto incrível. Porque ele pode não ter se destacado de cara, chamado a atenção (na verdade foi muito mais criticiado que elogiad). Mas ele chegou lá com labuta e humildade. E quem não acha inspirador o caminho dele dentro da F1 tem uma pedra no lugar do coração.
Estou com o Médice.
Nossa esse foi um texto muito romantizado sobre a vida de Massa que agora depois do acidente (que o destino ou o azar, como preferir chamar)quis que Barrichelo participasse.Transformou num idolo (coisa que ele nunca foi)E como um bom "FANNATICO" por Massa que o autor desse texto concerteza é! quer convercer a todos que Massa é uma coisa que nunca foi, mas possivelmente um dia seria(ou não)e ainda passando por cima de um corredor(que se nunca foi genio)mas sempre foi e será um batalhador que é Barrichelo.Deprimente ver alguém querer exaltar tanto seu idolo que pra isso nem esquenta de passar por cima de outro a ponto de só dar enfase em seus defeitos e em nenhuma de suas qualidades. A verdade é que Massa vai ter que ralar muito para um dia tentar chegar perto de Barrichelo e talvez e apenas talvez ele possa sonhar em supera-lo.
que trabalho minimo o Massa fez para chegar a Ferrari? tomar pau do Fisichella ou ser demitido por insuficiência técnica em 2002?
se tem um grande merito de Felipe Massa, foi escolher um empresario influente em uma grande equipe, como o Todt filho, para assim ter um futuro sem depender de sua própria capacidade, porque esse texto nao foi escrito enquanto ele estava pilotando? é bem mais facil criar mitos através de fatalidades, Massa não passa de uma estrela de brilho momentâneo, como o Button é, Montoya, Zanardi e Frentzen foram... e como estes, se apagará sem que tenha um motivo para gravar seu nome na história...
e isso não tem nada a ver co acidente dele!!!
Força e melhoras Felipe Massa
Torço pro Massa,mas torço mais pro Rubinho,não é por isso que vou denegrir a carreira do Massa,como você fez tenta fazer com a do Rubinho,foi o texto longo mais idiota que já li,entra na fila dos tolos que só fazem papaguear as piadinhas sobre o Rubinho,porque seu texto vale menos que as piadinhas.
Não consigo pensar outra coisa senão que o autor do texto tem problemas pessoais com Rubinho.
Será que ele não conseguiria elogiar Massa sem precisar bater em Rubinho? Será que ele não sabe que Rubinho é adorado, amado por pessoas que não reconhecem o valor de uma pessoa e de um profissional só quando ganha títulos, só quando está em primeiro? O autor do texto é campeão em que? Escreve para o New York Times? É comentarista da BBC? Não. É um jornalista que não sabe escrever. Que argumentou da forma mais infantil que existe. E, ainda mais, desconhece que Rubinho mora no coração de muitos brasileiros. No coração daqueles pra quem o mais importante não é ganhar.
Parece que as pessoas esquecem (não querem ver)que Massa só disputou o título no ano passado porque a Mclaren foi perseguida pela FIA. Do contrário, Hamilton teria dado um banho. Não por SER melhor que Massa (e pode até ser, não importa), mas porque FOI melhor na maioria das corridas, assim como a Mclaren foi melhor do que a Ferrari.
A bem da verdade, fico obrigado ao autor por não gostar de Rubinho. Esse é o maior elogio que Rubinho poderia receber. Se um cara como o que escreveu o texto gostasse de Rubinho, aí sim, deveríamos ficar chateados.
Senna foi sem dúvida um grande herói, um dos maiores do automobilismo mundial, se não o maior. E com a morte dele, virou um ídolo nacional e inesquecível para nós brasileiros.
O autor tentou utilizar o acidente do Massa para falar de um ídolo mundial surgindo. Não gostei dessa parte, o Felipe não se mostrou um piloto com tanta capacidade nesse ano, apesar de concordar que realmente Massa cresceu com o passar dos anos na F1.
O Rubinho pode não ter obtido muito sucesso para os brasileiros, que eram acostumados com Senna dizendo: "Brasileiro só aceita título se for campeão".
Uma grande parte do erro do Rubinho é falar demais. Deveria ficar mais na dele.
Mas o texto me pareceu um pouco ridículo de alguém que se diz que entende de F1.
O Massa e o Rubens são dois grandes pilotos. Um com um pouco mais de sorte, outro com menos.
Um que o Brasil resolveu massacrar e outro que procurou não comentar e esperar. E agora com esse acidente, querem começar a falar. O Brasil deveria reconhecer mais o talento do Rubens. É um gênio do esporte mundial, está no topo do automobilismo.
A pergunta que me fica depois de um acidente desses que o Felipe teve é: Será que realmente é o Rubinho que tem azar?
Abraços.
Obrigado a todos pelos comentários.
Sou fã de Rubinho e fico muito chateado com as coisas que acontecem com ele. Para provar que sou, basta acessarem meu canal no Twitter: (www.twitter.com/dandangallagher).
Quanto ao que o speed falou acima, concordo... parece que Massa às vezes é muito mais azarado que qualquer piloto de F1.
Basta ver 2008: um campeonato perdido (falando exageradamente) por causa de um problema a três voltas do fim na Hungria, um pit-stop mal feito em Cingapura e uma sorte absurda de Hamilton no Brasil.
Além disso, chega esse ano com um carro horroroso e sofre um acidente violento. Acho que nesse quesito, o Massa tem se mostrado muito azarado.
Porém, mesmo na adversidade, Massa nunca reclamou como Rubinho reclama. E cresceu, enquanto o Rubinho só diminuiu (este ano de 2009 prova de uma vez por todas isso -um carro vencedor, rápido e rasteiro, e quem venceu seis corridas e pontuou em todas foi Button, e não Rubens).
De todo modo, como é comum na blogosfera automobilística, todos têm direito à sua opinião e os comentários estão aí pra isso!
Abraços!
'E foi essa a contribuição de Massa como arquétipo de uma nação. Ele mudou o “talento vem de berço” para “resultado vem do trabalho”.'
Belo parágrafo. Eu já tinha escrito uma coluna sobre isso, acho mesmo que o Massa é um exemplo de superação. E olha que eu sempre acreditei nele desde 2002, independente dos comentários negativos que por vezes surgiam. A dedicação fez o piloto que hoje vemos aí, e é reconhecido e respeitado mundialmente, principalmente depois de tudo o que mostrou em 2008. E pelo quase título mais quase da história. Ganhou a empatia de muita gente; mais do que respeitado, também é admirado pelo seu trabalho.
É, ficou mais claro...mas confesso que tive uma primeira impressão ruim no começo do post... mas depois lendo o texto com mais calma (na hora li em minutos...) soube ponderar o que concrdo e o que discordo, e realmente Massa tem uma ombridade grande, assumir para si erros da equipe não é nada fácil, coisa que Rubens sempre falhou, mesmo tendo um ótimo caráter e se preocupando com os companheiros e com os mecânicos.
E vi seu comentário por lá no blog...acabei nem divulgando aqui, mas agora divulgo
http://historiasevelocidade.blogspot.com/2009/07/uma-opiniao-rubens-barrichello.html
se trata de uma sessão que é fixa no Historias e velocidade, e fala nesta semana justamente de Rubens Barrichello; o Daniel Gomes já conferiu lá, e convido a todos a fazerem o mesmo. Foi uma crítica no sentido real da palavra, com uma análise seguida de uma opinião pessoal, que vcs podem concordar ou discordar, mas não deixem de opinar lá...abraços
detalhe: Daniel, é como comentei com o amigo Bruno, do F1 database: comentar sobre Barrichello é pedir para ser elogiado e criticado ao mesmo tempo, só por falar nele...é uma dicotomia péssima, que limita a compreensão do que Rubens é e representa, nem mais nem menos do que se pinta por aí. abraços
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