A F1 é um esporte de precisão. Um esporte onde as margens são ínfimas, a janela operacional dos carros é mínima e o espaço para erro praticamente inexistente.
A evolução da tecnologia levou os pilotos a se tornarem máquinas ainda mais precisas que aquelas que guiam fim-de-semana após fim-de-semana. Horas de simuladores, treino físico pesado e muitos testes fazem dos pilotos praticamente robôs. A diferença de performance entre o melhor e o pior piloto do grid é muito menor que a diferença de performance entre o melhor e o pior carro.
Os motivos acima, além de outros menos importantes, mas não menos decisivos, são a causa concreta da falta de ultrapassagens na F1. O resto são apenas conjecturas sem sentido.
Se uma disputa não pode ser resolvida na pista, ela tem que ser resolvida fora dela. A habilidade de ultrapassar, ser agressivo, frear mais tarde, intimidar, “mostrar o bico do carro”, tudo isso foi trocado pela habilidade do quartzo, aquele mineral colocado dentro do relógio que mantém o tic-tac preciso e constante durante décadas.
Os melhores pilotos hoje são as pedras de quartzo mais precisas. Aqueles que conseguem manter um nível de concentração, precisão e constância mais alto e inabalável possível são recompensados.
Então adianta Alonso andar mais que Massa, mas não ultrapassa-lo? Adianta Hamilton andar mais que Alonso e não ultrapassa-lo? Adianta Massa andar mais que Kubica e não ultrapassa-lo?
Por mais que o GP da Austrália tenha sido excelente para o (tele)espectador, os pilotos acima viveram estas situações durante toda a corrida. Então, se a tecnologia não vai andar para trás e os carros vão continuar muito semelhantes e criando dificuldades de ultrapassar, como resolver o problema?
O reabastecimento é a resposta.
O reabastecimento é a única forma, na F1 moderna, de recompensar a constância do melhor piloto. É por meio dele que as posições são trocadas e os pilotos realmente merecedores ocupam seus lugares de direito na bandeirada final.
Veja bem, leitor, que o reabastecimento não faz o espetáculo, mas ele é uma saída para que a F1 se mantenha competitiva do ponto de vista do campeonato, dos pontos, da mobilidade de um piloto e uma equipe dentro da tabela de pontos.
O CONTEXTO da F1 atual é que torna o reabastecimento um elemento imprescindível para se ter uma competição sadia e justa entre equipes e pilotos.
Não é exagero dizer que acompanhar corridas pelo Live Timing se tornou algo praticamente inútil. Não interessa quantos segundos um carro está mais rápido que outro (alguém se lembra do Bahrein?).
Não interessa se o carro tem mais ou menos performance com o pneu duro ou macio. Não interessa se o cara vai parar na volta 15 ou 20. Quando um parar, todos vão parar junto, pois agora a desvantagem é de quem para depois.
Tudo isso se torna irrelevante se a posição na pista não pode ser mudada pelos motivos elencados acima.
Se a F1 estivesse nos anos 1980, o reabastecimento seria inútil. Mas a F1 da era Schumacher, o reabastecimento é onde está a competição.
Muito se falou que as estratégias tornavam a F1 um esporte inacessível para o leigo, pois o que se via na TV não é o que de fato um instantâneo da prova (carros fora de posição, em "estratégias diferentes", etc.), mas ocorre que a F1 evoluiu demais e nas atuais condições, é impossível voltar atrás e tornar o esporte mais simples, pelo simples fato de ele NÃO O SER.
Em um dos textos do jornalista James Allen, um dos seus leitores postou a seguinte pensata sobre o reabastecimento:
O problema das novas regras é que se você tem um carro mais rápido e não pode ultrapassar na pista, não há NENHUMA estratégia de pitstop que o coloque na frente do outro piloto. Não há nada que possa ser feito. É realmente deprimente.
Por exemplo, se houvesse reabastecimento no GP da Austrália, Button poderia ter tomado sua decisão da mesma forma e alcançado a liderança, Massa e Alonso poderiam ter tomado a posição de Kubica. Alonso poderia ter passado Massa e Hamilton e Webber poderiam estar muito mais próximos dos primeiros.
O reabastecimento tem o poder de fazer com que o vislumbre da melhor estratégia seja muito mais difícil. Isso porque um carro mais leve com pneus novos é tão mais rápido que um carro cheio de combustível que é possível ultrapassar e ganhar uma vantagem.
Com as regras atuais, há uma solução de equilíbrio em que é SEMPRE melhor não parar para troca de pneus depois do primeiro pitstop, a não ser que todo mundo faça isso também. Ninguém vai fazer a parada a não ser que os pneus não consigam aguentar até o fim da corrida sem explodir. Não é esse o caso porque a Bridgestone cria os pneus para serem duráveis e eles estão na F1 para vender pneus!
Outro aspecto é o de que esses caras são os melhores pilotos do mundo. Eles VÃO tornar a ultrapassagem muito difícil porque eles têm a habilidade para fazer isso. [As soluções sugeridas] podem ser o caminho, mas ultrapassar um carro um pouco mais lento vai continuar sendo muito difícil, não importa o que seja feito. Então o reabastecimento e a oportunidade de passar outro carro por meio da estratégia são necessários para manter a F1 interessante.
Essa discussão continuará cerrada nos próximos meses, mas a princípio, a F1 urge repensar sua condição de esporte evoluído. É diante do contexto que o esporte deve se adaptar, e não de forma retrógrada ou reativa.
E você, o que pensa sobre isso?
quinta-feira, 1 de abril de 2010
Por que a F1 atual precisa do reabastecimento
Marcadores:
Alonso,
Button,
GP da Austrália,
GP do Bahrein,
Hamilton,
Kubica,
Massa,
Miscelânea,
Webber
Assinar:
Postar comentários (Atom)
3 comentários:
Primeiramente, parabens pelo blog. Sou leitor assíduo.
Discordo quanto a necessidade da volta do reabastecimento. O reabastecimento padroniza a performance e comportamento do carro no decorrer da prova. Enquanto que sem o abastecimento, o piloto precisa levar no braço a diferença de acerto para carro com tanque cheio, e depois mais leve, o pneus precisam aguentar o desgaste adicional que o peso do carro proporciona. Nenhum stint é igual ao outro, e um piloto lento no inicio na corrida, pode se tornar rapido no final e vice-versa.
Isso exige mais braço do piloto.
Henrique, vc tem razão, mas nessas condições da F1 atual, nem o Senna conseguiria ultrapassar.
É isso que falei no texto. De que adianta o Alonso ser o top se ele não consegue, não PODE ultrapassar por limitações que vão além de sua qualidade como piloto?
O reabastecimento tira sim da pista o elemento da ultrapassagem em 'alguns' aspectos, mas por outro lado, acaba por premiar de fato o piloto mais rápido.
Na F1 atual, o piloto mais rápido NEM SEMPRE ganha.
Na F1 com reabastecimento, não tem jeito. O piloto mais rápido SEMPRE vai ultrapassar o adversário e daí ter sua posição de direito no grid.
É o que vejo no contexto atual da categoria.
O reabastecimento pode resolver más, seria a ultima das possibilidades a ser usada.Vejamos:
1-Ter a FIA endurecidos quanto as regras dos difusores já para esta temporada.
2-Juntamente c/ regra dos difusores ,não diminuir a largura dos pneus e até aumentar.
Com difusores "padronizados" o carro da frente geraria menos turbulência na aproximação do carro que vem tentando pegar o vácuo p/ultrapassar.Ainda assim, mesmo que gerasse alguma turbulencia, os pneus dianteiros mais largos geraria mais aderência mecânica sem que a turbulência prejudicasse a aproximação do carro de tras
Postar um comentário