sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Robert Kubica: três considerações

Kubica: a ironia da foto não pode ser desconsiderada

Praticamente uma semana depois do acidente do polonês mais rápido da Europa, as discussões se desdobraram em vários outros subassuntos relacionados direta ou indiretamente à Kubica, à F1 e ao rally em geral.

O Splash-and-go faz agora breves comentários sobre três desses assuntos. Você, leitor, também pode contribuir na seção de comentários.

1 - Sobre pilotos de F1 se aventurarem em atividades de alto risco

Pilotos gostam de velocidade. E dentro de qualquer atividade que se relacione à velocidade, existe o risco advindo da possibilidade de falha humana ou falha mecânica (intra ou extra carro) que pode causar sérias consquencias, dentre elas a morte.

Pilotos que praticam esportes perigosos fora daquele que o tornou famoso estão praticando um tipo de auto-indulgência que vai muito além do que o ser humano comum pode compreender. Todas as pessoas têm lá seus momentos de auto-indulgência, mas essas atividades podem ser premiadas com a morte no caso de certos indivíduos.

Dentro dessa realidade, causa espanto a velocidade com que certos fãs correram para crucificar Kubica por seu acidente. Eles esquecem que Kubica é, antes de mais nada, uma pessoa normal como qualquer outra. Mas essa semelhança vai só até um determinado ponto.

Kubica é um dos raros afortunados nessa Terra dos homens que conseguiu ser pleno em uma atividade. Mas não só isso. Ele é pleno e tem a benção de poder praticá-la todos os dias de sua vida, coisa que muitos dos reles mortais jamais se darão o prazer de fazer.

As pessoas veem em Kubica um exemplo, um modelo, e pensar na vida mundana de ir ao trabalho e voltar para casa sem ver o astro correr no domingo é impensável para muitos. Mas Kubica não está nem aí para isso. Ele vive a vida dele e é isso que importa. Quem quiser se identificar, que se identifique. Se não, que vá plantar batatas na Cracóvia.

É por isso que Kubica deveria ser admirado incondicionalmente pelo que fez e faz. Porque ele é autêntico e não segue regras predeterminadas e nem fica se martirizando por estar na posição que está. Ele usa dessa condição de astro para ser feliz fazendo o que gosta. Se alguém não consegue entender isso, é porque está longe de saborear o que de bom a vida pode oferecer.

Se esse for o seu caso, corra para o psicólogo, faça alguns meses de análise e comece a se ocupar do que importa para você e sua felicidade, e não se preocupe com a felicidade e os infortúnios dos outros. Inspire-se e viva.

2 - Sobre a (falta de) segurança no rally

No rally, o controle sobre a segurança é deveras limitado

Francamente, discutir segurança no rally não é igual discutir segurança na F1. F1 é praticamente um balão de ensaio. A categoria esportiva mais cara do planeta tem um investimento em segurança diretamente proporcional a esse poderio financeiro. Se ainda é falha ou não, isso não importa. A segurança aumenta todo dia a olhos vistos.

Tudo é controlado na F1. Os novos autódromos são desenhados milimetricamente para que o piloto tenha o maior número de elementos possível que o separe da parede mais próxima.

Lembra do Tilke? Pois é, seus autódromos são chatos? Provavelmente são, mas também são os mais seguros do calendário. Não é à toa que grandes pistas já sumiram da temporada (Ímola lembra alguma coisa?) e outras tendem a sumir se não se adaptarem.

São áreas de escape, chicanes, brita, areia, asfalto mais aderente, zebras menos altas, muros reforçados e protegidos com pneus e mais pneus... a lista é infinita, para não falar dos itens dentro do cockpit.

O rally, embora forte no mundo da velocidae, está longe de ter a mesma preocupação, porque tem bem menos espectadores e, por conseguinte, menos dinheiro. Mas não é só isso.

As pistas são em locais irregulares, uma nunca é igual a outra e muitas vezes os pilotos mal sabem onde e como será a próxima etapa. Eles confiam cegamente em seu escudeiro, o copiloto.

Basta assistir ao vídeo abaixo de Kubica no 34° Rally 1000 Miglia... é possível controlar algum dos elementos fora do carro?



Não.

E mesmo que o guard-rail que empalou seu carro tivesse sido mal instalado, isso não depõe em nada contra a organização de um rally, qualquer que seja. É o chamado freak accident, quando todas as improbabilidades se unem por uma fração de segundo e algo catastrófico acontece. É só estudar a morte de Senna para concluir isso...

O rally é uma caixinha de boas e más surpresas

Resumo da ópera? A segurança no rally não tem nada a ver com o acidente de Kubica. Muitos vão bater nessa tecla a partir de agora e certamente a segurança na categoria VAI aumentar, mas não vai impedir que acidentes como esse se repitam a cada vez que os planetas do Sistema Solar se alinharem de um determinado jeito em uma determinada hora...

3 - Sobre a substituição de Kubica

Já foi falado neste blog mais de uma vez (aqui e aqui) sobre a maldição que recai sobre o primeiro-sobrinho, Bruno Senna Lalli. Ora, o blog Bandeira Verde postou um brilhante retrospecto da carreira do rapaz que ajuda a ter uma visão mais realista sobre quem é o piloto profissional Bruno Senna... porque da celebridade global, todo mundo já cansou.

Tudo indica que os testes darão a vaga a Nick Heidfeld, um morto-vivo, mais morto do que vivo, que continua rondando o paddock sempre em busca de uma chance... E não é como se o Splash-and-go não gostasse do alemão barbudo...

Pelo contrário, é um excelente piloto e, do ponto de vista do pragmatismo, merece a vaga de fato e de direito. Afinal, bateu Kubica por dois anos em três dos que foram companheiros, e isso não é pouca coisa.

Mas nada tira a sensação de que Bruno não foi talhado para a F1. Se não pelo talento (ou falta dele), por uma maldição... É a segunda vez que Senna tem a chance de entrar na F1 chutando a porta... e pela segunda vez ele deve perder a parada para um velho aposentado.

Primeiro em 2008 na Honda, que acabou sendo comprada por Ross Brawn que recrutou Rubens Barrichello, mesmo elogiando Senna. Agora com a Renault, que vai de novo chutar seu traseiro com vistas a um piloto experiente e rodado...

Os anos longe do automobilismo estão custando muito caro a Bruno, porque caso tivesse seguido a carreira normalmente, teria muito provavelmente chegado na F1 mais cedo e, por agora, teria aí pelo menos três anos de experiência em equipes menores e seria uma opção mais séria para Eric Boullier e a cúpula da equipe...

Com o perdão do trocadilho, essa "cena" não se repetirá em 2011

Mas não foi isso que aconteceu e, a não ser que Bruno encarne seu tio nesse fim de semana em Jerez de la Frontera, provavelmente é a última vez que ele terá uma chance real de pilotar um carro competitivo na F1. E o Brasil mais uma vez estará torcendo por Felipe Massa e... Rubens Barrichello.

3 comentários:

Ron Groo disse...

Me desculpe, mas se começar uma campanha por "mais segurança" no ralli, vai desvirtuar mais uma categoria.

Automobilismo tem o risco como característica e ninguém vai pra uma prova pensando em se arrebentar.

Já não chega o que fazem com a F1, que só falta o carro ser pilotado por joystick de dentro dos boxes.

Anônimo disse...

Fala Daniel!

Bom, sobre o item 1:

Concordo em partes com o que vc disse. Kubica é um ser humano normal, e faz o que gosta, e etc. Mas há uma empresa da qual ele é funcionário, como a maioria de nós, pilotos, pedreiros, jornalistas, faxineiros, advogados, etc, com exceção dos autônomos e empresários, evidentemente.

Todos nós, seres humanos "normais" como Kubica, fazemos o que queremos nas férias, mas durante o período de trabalho somos limitados e temos que adequar nossas vidas primeiramente ao trabalho. Ninguém vai faltar ao trabalho pra ir pro clube numa terça à tarde.

Então, o que defendo é que qualquer piloto corra onde quiser, como quiser e o tempo que quiser, durante as férias, que equivalente a TODO o período entre a prova final do campeonato e o início da pré-temporada do campeonato seguinte.

O risco é iminente em qualquer situação. Um piloto pode morrer em uma prova extra-categoria tanto quanto um jogador de futebol pode quebrar a perna jogando futvôlei. Eu posso morrer subindo a serra no último dia de férias do trabalho. Mas acho que um piloto que é funcionário de uma equipe deve estar com a cabeça SOMENTE no carro e na equipe desde o início da pré-temporada até o fim do campeonato. Por isso critiquei o fato de Kubica participar de uma prova de Rali em meio à pré-temporada. Ele poderia ter participado de 400 provas de Rali nas férias, mas a partir da pré-temporada, não. É esse o ponto que defendo.

Sobre o ítem 3... bom, acho que o Bruno terá oportunidade, ainda. E mesmo dentro da própria Renault. Apesar de ter grana, o Petrov é bem fraquinho. Mas tb é assunto pra longo debate.

Abração, cara!

DGF disse...

Hugo, compreendo seu ponto de vista, mas, sinceramente, não vejo onde se aplica na vida de qualquer pessoa.

Se for seguir sua lógica, mesmo contratado por alguma empresa, não poderia, por exemplo, pular de bungee jump no fim-de-semana ou pegar uma trilha de moto, pq eu tenho que estar "focado" no trabalho.

Ora essa, todos nós ganhamos dinheiro para termos o conforto de fazermos o que quisermos a hora que quisermos. Eu não vou ficar preso em casa sem fazer algo mais "perigoso" por causa da empresa onde trabalho. Não importa quantos milhões eu ganhe.

E outra, se é tão absurdo assim, a Renault que colocasse uma cláusula no contrato. Mas não colocou, porque sabia que Kubica não assinaria. O poder do piloto nessa hora é muito importante.

Enfim, entendo, mas discordo de você.

Mas o fato é que estamos sem o Kubica e é um risco que ele quis correr. Não o julgo por isso.